Convergência e luta <br>por uma alternativa política

Jorge Cordeiro (Membro da Comissão Política)

Romper com a po­lí­tica de di­reita e fazer emergir uma al­ter­na­tiva po­lí­tica, pa­trió­tica e de es­querda, cons­titui um im­pe­ra­tivo na­ci­onal e pa­trió­tico. Im­pe­ra­tivo que cor­res­ponde a uma le­gí­tima as­pi­ração dos tra­ba­lha­dores e do povo, de todos os de­mo­cratas e pa­tri­otas que não aceitam o rumo de afun­da­mento a que a po­lí­tica de di­reita vem con­de­nando o País.

O PCP as­su­mirá todas as suas res­pon­sa­bi­li­dades pe­rante o povo e o País

Como o PCP tem in­sis­tido, uma po­lí­tica e um go­verno pa­trió­ticos e de es­querda são não só ne­ces­sá­rios como pos­sí­veis. É na sua con­cre­ti­zação que o PCP está con­vic­ta­mente em­pe­nhado. Assim se am­plie, a par da in­ten­si­fi­cação da luta, a con­ver­gência de forças so­ciais e po­lí­ticas, e do vasto con­junto de de­mo­cratas e pa­tri­otas sin­ce­ra­mente em­pe­nhados em os con­cre­tizar.

A cons­trução da al­ter­na­tiva é in­se­pa­rável da rup­tura com a po­lí­tica de di­reita e da am­pli­ação da base so­cial e po­lí­tica que dê su­porte a uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda. Dois ele­mentos, duas con­di­ções in­dis­so­ciá­veis cuja apre­ensão é cru­cial para romper com o ro­ta­ti­vismo dos pro­mo­tores da con­ti­nuada po­lí­tica que há 38 anos ar­ruína o País e a vida dos por­tu­gueses. Um pro­cesso que, não isento de com­ple­xi­dades, exige na sua cons­trução, sem pre­juízo do res­peito por na­tu­rais di­fe­renças, a re­moção de pre­con­ceitos, a re­jeição de am­bi­ções he­ge­mó­nicas, a re­cusa de mar­gi­na­li­za­ções, a cla­reza de pro­pó­sitos.

É no ter­reno dos con­teúdos e op­ções da po­lí­tica que se propõe que ra­dica a prova sobre as reais in­ten­ções quanto a uma ver­da­deira al­ter­na­tiva. É nesse ter­reno que se afere da linha que se­para o sério com­pro­misso para a cons­trução de uma efec­tiva con­ver­gência, dos opor­tu­nistas apelos à uni­dade di­ri­gidos, não a esse ob­jec­tivo, mas a aplanar o ca­minho para jus­ti­ficar re­no­vados com­pro­me­ti­mentos com a po­lí­tica de di­reita. Fraco sen­tido de con­ver­gência o da­queles que pro­cla­mando-a, o fazem não para ela con­tri­buírem, mas para ar­qui­tec­tarem fór­mulas vi­sando o iso­la­mento do PCP e a re­dução da sua in­fluência.

Aos que es­grimem, em abs­tracto, que a con­ver­gência sig­ni­fica com­pro­misso não os des­di­zemos. O que se acres­centa é que eles não são se­pa­rá­veis do ponto de onde se parte e da­quele a que se pre­tende chegar. Aos que pro­clamam que se devem res­peitar di­fe­rentes po­si­ci­o­na­mentos, acom­pa­nhamos-los, mas su­bli­nhando que isso não pode ser si­nó­nimo de ne­gação de pro­pó­sitos e ob­jec­tivos.

O ob­jec­tivo da con­ver­gência não é se­pa­rável dos con­teúdos e da na­tu­reza que a mo­tiva. Quem a esta questão cru­cial res­ponde ar­re­mes­sando com in­ven­tadas di­fi­cul­dades de diá­logo, mais não pre­tende do que es­conder po­si­ci­o­na­mentos sobre as ma­té­rias co­lo­cadas em diá­logo. Se­gu­ra­mente, pela força de um há­bito en­rai­zado em quase quatro dé­cadas de acordos à di­reita, para al­guns tudo se re­sume a en­con­trar mo­edas de troca, en­ge­nhosas con­tra­par­tidas e en­ce­nadas ce­dên­cias para jus­ti­ficar esses mesmo acordos que, formal ou in­for­mal­mente, unem na mesma po­lí­tica PS e PSD, acom­pa­nhados ou não pelo CDS.

As­sumir res­pon­sa­bi­li­dades

A con­cre­ti­zação da al­ter­na­tiva exige que clara e ine­qui­vo­ca­mente se es­ta­be­leça o tra­jecto que a vi­a­bi­lize, ou seja, a as­su­mida opção de rup­tura com a po­lí­tica de di­reita em todos os seus eixos es­tru­tu­rantes. A questão não está em en­cenar pro­cessos de diá­logo sobre in­te­li­gentes ou ha­bi­li­dosas formas de con­cre­tizar a po­lí­tica de di­reita mas sim, de forma clara, cada um dizer como pre­tende romper com ela. É essa a fron­teira que se­para al­ter­na­tiva e al­ter­nância.

An­te­ci­pando es­te­re­o­ti­padas acu­sa­ções, se re­a­firma que o PCP não tem a pre­tensão de es­gotar, em si, a uni­dade de es­querda nem de he­ge­mo­nizar pro­cessos de con­ver­gência. Mas tem o dever de afirmar que eles não se cons­troem sem ou contra o PCP e, bem menos, am­bi­ci­o­nando re­duzi-lo a adorno de ve­lhos com­pro­missos com a po­lí­tica de di­reita. Ha­verá quem, mais de­ter­mi­nado pelo acesso ao poder do que vin­cu­lado a uma po­lí­tica al­ter­na­tiva, a isso se dis­ponha.

O PCP pe­sará e con­tri­buirá para a cons­trução de uma al­ter­na­tiva po­lí­tica, não para servir de pla­ta­forma de pas­sagem para uso de forças po­lí­ticas e de so­lu­ções que não se afastam da po­lí­tica de di­reita. Pelo que as teses sobre um ale­gado blo­queio à es­querda que em­pur­raria o PS para a di­reita, a es­ta­fada ideia de que o PCP não quer sair do «con­forto» do «pro­testo» ou de auto-ex­clusão de so­lu­ções go­ver­na­tivas, serão muito úteis para jus­ti­ficar ge­né­ticos com­pro­me­ti­mentos com o grande ca­pital, mas não têm qual­quer co­lagem com a «mu­dança» que al­guns apre­goam para pros­se­guirem so­lu­ções as­sentes na al­ter­nância. Os que acenam com uma de­se­jada «casa comum» da es­querda fazem-no para iludir a po­lí­tica comum de di­reita que há dé­cadas co­a­bitam.

O PCP as­su­mirá todas as suas res­pon­sa­bi­li­dades pe­rante o povo e o País. Seja a de agir para am­pliar a con­ver­gência, seja para pros­se­guir a luta contra a po­lí­tica de di­reita, seja para as­sumir as res­pon­sa­bi­li­dades de go­vernar. Sempre no pres­su­posto de uma sim­ples e de­ci­siva pre­missa: a do con­teúdo e op­ções de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda e não a das fór­mulas de en­vol­vi­mento e com­pro­me­ti­mento em so­lu­ções go­ver­na­tivas em con­tra­dição com aquelas.

 



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